A discussão sobre o financiamento da cultura no Brasil, e em específico dos museus, é um tema que tem me chamado a atenção desde quando iniciei minha carreira no setor, em 2006. Recentemente tive a oportunidade de participar do VI Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa, em Lisboa, e por lá a crise no velho continente levou-os a buscarem novas formas de financiamento das instituições senão aquelas antes centradas, quase que integralmente, nas mãos dos governos e da União Europeia. Criatividade e cooperação foram apontadas como caminhos à saída dos investimentos públicos.
Desde então, por meio de uma breve análise pudemos perceber que o modelo de financiamento do setor deixou de ser inteiramente responsabilidade governamental. Sem entrar no mérito da discussão sobre as políticas públicas, constatamos a entrada de novos atores: empresas privadas patrocinadoras diretas em implantação e manutenção que não usam leis de incentivo e iniciativas empreendedoras que enxergam nos museus e em seu ecossistema produtivo oportunidades de geração de negócios. E é sobre esse último que queremos falar aqui.
A ousadia de empreender requer planejamento, estudo de mercado e estudo da famosa viabilidade econômica. Isto implica na descoberta de um problema real e uma demanda mercadológica que se bem explorados podem gerar soluções rentáveis. Essa procura tem sido uma constante em minha jornada desde que decidi empreender o Mutz, um Guia Colaborativo para museus na web e em mídias móveis. A carência em formação empreendedora e, mais ainda no setor da chamada Economia Criativa, me levou a participar de importantes programas como o 1º Reality Show Colaborativo do Brasil, o Empreendedores Criativos, em São Paulo, e mais recentemente o Startup Farm, em Belo Horizonte.
Neste último, um exercício fundamental foi o de market assessement, que resumidamente implica no conhecimento de mercado e validação de hipóteses sobre um determinado problema junto a um grupo de pessoas. Subtemos a gestores de museus uma breve pesquisa baseada na metodogia Empathy Map com o objetivo de verificar possibilidades de aceitação e parcerias de empreendimentos digitais para museus. Gostaríamos de compartilhar alguns resultados com vocês.
Entre os maiores medos e frustrações dos gestores respondentes estão: sustentabilidade, recursos humanos e divulgação dos espaços e programação. E o que mais desejam são: ampliar a atuação dos museus nas comunidades, atrair novos parceiros para o potencial dos museus e aumentar a visitação.
Sobre o empreendedorismo no setor a maioria sente falta de iniciativas que contemplem as instituições e já estimulam ações similares entre parceiros ou nos próprios espaços. As respostas que mais nos impressionaram foram as referentes à questão sobre venda de produtos e serviços dos museus na internet, cerca de 90% dos gestores afirmaram que fariam parcerias com novos empreendedores por acreditarem que isso poderia ajudar no incremento a sustentabilidade financeira.
Apesar de ter sido realizada com um universo muito pequeno, cerca de 30 profissionais em todas as regiões do Brasil, e com uma metodologia muito simples em relação às pesquisas acadêmicas, a avaliação foi muito significativa para direcionar nossos planos rumo a modelos de negócios que gerem valor para os museus, visitantes e demais agentes da cadeia produtiva do setor.