NA ERA DA HIPERNUVEM
Novo desafio para o software: dos bilhões de CPUs da era mobile para as dezenas de bilhões da era IOT
Há poucas semanas participei da semana européia de Internet das Coisas (iot-week.eu), cuja edição deste ano aconteceu em Belgrado, capital da Sérbia (e também da antiga Iugoslávia, que já não existe). Participaram do evento grandes corporações globais (que falam hoje em ‘hypercloud’ para descrever a computação em nuvem praticamente onipresente), assim como pequenas e médias empresas de quase quarenta países de todos os continentes (mas com maioria européia).
Praticamente houve unanimidade, por parte dos apresentadores, em reconhecer que Internet das Coisas é a próxima ‘onda’ do mundo da tecnologia. Se o mundo ‘mobile’ permitiu ampliar o número de CPUs em uso no planeta para a casa de vários bilhões, a Internet das Coisas permitirá ampliar esse número para as dezenas de bilhões (sem que precisemos desse número de mãos para operá-las!).
Por outro lado, ninguém entende a Internet das Coisas como uma nova rede, separada da Internet atual, mas como o processo de conexão das ‘Coisas’ (sejam máquinas industriais, carros, geladeiras, portões de segurança ou quaisquer outros) com a Internet que já temos.
Assim, ficou evidente que desafio não se resume ao desenvolvimento do hardware das ‘coisas’ conectáveis, ou a adaptação dos protocolos de comunicação para falar com ‘coisas’, mas inclui a integração dessas novas ‘coisas-computadores’ no universo da computação em nuvem: as ‘coisas’ conectadas serão tanto mais úteis quanto mais pessoas puderem usufruir delas. Mas para isso, ‘coisas’ e pessoas precisam ser conectadas – e essa conexão só pode ser feita por meio de mais software disponível para as pessoas.
Em toda a história dos computadores, o desenvolvimento de software sempre veio a reboque do desenvolvimento do hardware, e com algum atraso. A integração das ‘coisas’ na Internet expõe elas a todas as dificuldades que já conhecemos na nuvem (como por exemplo, conexões que caem e ataques de negação de serviço).
A apresentação que fiz no auditório principal, como empreendedor brasileiro, focou neste aspecto da integração: como essas dificuldades não são exclusivas de nenhuma aplicação específica da computação em nuvem ou das coisas conectadas, propomos endereçar essas questões por meio de uma ferramenta, baseada na nuvem, que nós já desenvolvemos.
Eventos como estes são também momentos de reflexão. Não posso deixar de registrar que, se o mundo caminha para a ‘hipernuvem’, o acesso a ela passa a ser crítico.
Contraponho essa constatação com a tentativa das operadoras de telecomunicações brasileiras que estão se movimentando para impor limites de tráfego ou custos adicionais aos seus consumidores e empresas clientes no nosso país. Trata-se não apenas de uma ‘transferência de renda’ unilateral (que não parece justa), mas de um risco para a continuidade das operações da ‘hipernuvem’: já pensou se o portão automatizado da sua casa não abre, porque a conexão de banda larga da sua casa esgotou a sua ‘cota’ de tráfego enquanto você passou o dia trabalhando fora de casa?
Outra observação, diante da presença de representantes de tantos países, é que o apoio à inovação do qual dispomos no nosso país, é inferior a de todos os demais participantes. O jogo global da competitividade passa pela inovação. Sem políticas públicas continuadas que a fomente, nossa chance como país nesse jogo global é minima.
Se como empreendedor, conclui estar ‘surfando uma onda’ muito interessante, também fiquei triste em constatar que, como país, nosso papel no jogo global está em risco. Essa constatação foi reforçada ao retornar ao país pelo moderno Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos e ser recebido com a ‘pérola idiomática’ retratada na foto que acompanha este texto.