Após fechar escola de informática, empresário vive da venda de gibis (Santo André – SP)

por BRUNO BENEVIDES

Leitor de histórias em quadrinhos desde criança, o engenheiro Adriano Rainho, 48, foi durante 20 anos dono de uma escola de informática em Santo André, na Grande São Paulo.Em 2012 ele decidiu fechar a empresa e passou a atuar comprando e vendendo gibis antigos pela internet. Isso permitiu que ele e a mulher, Élguima, mudassem-se para uma chácara em Capão Bonito (a 226 quilômetros de São Paulo). Eles vivem até hoje no local, entre pés de jabuticaba e um acervo com 30 mil gibis.

Thays Bittar/Divulgação
Adriano Rainho com sua coleção de revistas em quadrinhos
Adriano Rainho com sua coleção de revistas em quadrinhos

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Eu fui tirar férias na minha chácara, em Capão Bonito, em 2003, e levei os gibis que eu lia quando era criança. Sentei na minha rede e comecei a ler. Aquilo ali fez voltar uma nostalgia em mim, era como se eu entrasse nas histórias. Foi uma coisa de louco. Eu peguei meu carro e dirigi três horas até em casa, peguei todos os gibis que tinha e voltei para o sítio. Li tudo em três dias.

Na minha infância, em Santo André, não tinha computador, internet, Facebook, então lia gibi. Meu preferido era o “Tex”, um faroeste em preto e branco, publicado até hoje.

Quando voltei da chácara, eu fui procurar no MercadoLivre esses gibis do “Tex”. Comecei a comprar e fiquei com gibis repetidos. Esses eu vendia para comprar mais. Enquanto isso eu continuava trabalhando na minha escola de informática.

Nisso, conheci também colecionadores, senhores de 70, 80 anos. Logo comecei a comprar mais, fiz anúncios em jornais. Vinha gibis para minha coleção, mas também coisa que eu não queria. Então, comecei a vender mais ainda. Aquilo começou a dar mais dinheiro e ocupar mais tempo que a escola, então eu fechei ela em 2012.

Nessa época eu estava muito estressado com a vida na cidade, achava que ia ter um infarto. Como vendia e comprava pela internet, decidi mudar para a chácara e trabalhar de lá. Eu envio as revistas aos compradores pelo correio.

Minhas irmãs me perguntavam se eu estava com um parafuso solto.

Para minha mulher, foi difícil, ela é uma pessoa urbana, mas hoje já estamos muito bem. Ontem ficamos duas horas comendo jabuticaba no pé, não dá para fazer isso na cidade.

Eu trouxe minha mãe para morar com a gente aqui na chácara. Meu pai também vinha, ele ajudou muito, mas morreu no fim de 2012.

Eu vivo desse acervo que eu fiz, de 2003 a 2012. Está mais difícil comprar gibis hoje, quase tudo está nas mãos de colecionadores. Em geral só aparece coisa nova quando um deles morre.

Sou o maior colecionador de “Tex” do Brasil, são uns 3.200 itens que eu não vendo. Tenho quase tudo da Disney desde 1930, sou meio maluco. Também coleciono edições numero um. Ao todo o acervo tem 30 mil revistas. Tem umas que saem por R$ 5 no MercadoLivre e outras bem mais caras. Um gibi do “Fantasma”, de 1937, vale R$ 5.000.

Os gibis mais antigos, dá década de 1940, 1950, são mais difíceis de vender hoje porque os colecionadores mais velhos estão morrendo. O que mais sai são gibis de 1960 e 1970 da Turma da Mônica e da Marvel e DC. Por enquanto eles me sustentam.

Fonte: Folha Online – 19/10/2014

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