Projeto “Nós, Brasil! We, Brazil”

Realizado em quatro cidades ao redor do país, fomentou a discussão sobre urbanismo entre brasileiros e alemães.

cidade

Levantar questões sobre a realidade das cidades, a participação cidadã em seu desenvolvimento, fomentar a discussão sobre onde se vive e os desafios encontrados hoje foi o objetivo do “Nós, Brasil! We, Brazil”, realizado em quatro grandes cidades brasileiras. O projeto, que trata dos desafios das cidades contemporâneas, foi concebido por ocasião da Bienal de Arquitetura de São Paulo.

O evento foi organizado pelo Instituto Goethe, em nome do Ministério dos Transportes, Construção e Desenvolvimento Urbano da Alemanha, como uma plataforma para o intercâmbio de ideias no campo do urbanismo entre Brasil e Alemanha.

Projeto discutiu diferentes problemas com diferentes pontos de vista

O alemão Matthias Böttger, do Centro de Arquitetura Alema~ em Berlim, foi o curador internacional do evento e responsável pela seleção dos curadores brasileiros em Curitiba, Salvador, Porto Alegre e São Paulo.

“Fiquei muito contente com a perspectiva de trabalho em conjunto, com a postura horizontal do grupo, de não trazer uma exposição pronta, mas construir algo aqui no Brasil”, disse o arquiteto Renato Cymbalista, editor adjunto da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, presidente do Instituto Pólis e curador da iniciativa em São Paulo.

Novas classes médias

O projeto, que se encerrou em São Paulo no último fim de semana, percorreu três grandes cidades ao redor do Brasil e levantou diferentes questões. Foi, ainda, de encontro com o tema da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo: Modos de Fazer, Modos de Usar e Modos de Agir.

Segundo Cymbalista, essas três cidades apresentam dinâmicas que são bastante recorrentes nas cidades brasileiras: altos níveis de informalidade, desigualdades, segregação, um alto dinamismo do mercado imobiliário nos últimos anos, mobilizações sociais relevantes.

O crescimento da classe média e seu espaço também foi um dos pontos levantados nas discussões. Essa mudança na estrutura social está fortemente ligada ao futuro do desenvolvimento das cidades brasileiras. “As chamadas ‘novas classes médias’ são um elemento de profunda transformação da nossa sociedade e das nossas cidades. Precisamos conhecer e problematizar profundamente essa nova situação”, disse o arquiteto.

Cymbalista acredita que o acesso de maior parte da população, não só aos bens de consumo, mas também a informação, cultura e educação, tem uma ação muito grande no espaço urbano, que está sendo disputando em um sentido físico e político. As velhas classes médias, afirma, sempre tiveram seus espaços garantidos no Brasil, em universidades e instituições culturais. “Isso cria uma desestabilidade, mas, no meu ponto de vista, é profundamente estimulante”, completou.

O resultado foi refletido na quarta oficina realizada em São Paulo – além de levantar questões pertinentes da cidade. Os resultados e algumas soluções encontradas estão expostos na capital paulista como parte da Bienal de Arquitetura.

Diferentes perspectivas, desafios distintos

Em Porto Alegre, a série de workshops foi liderada pelo o curador local do projeto, Márcio Rosa D’avila. O debate foi focado no orçamento participativo e como ele pode ser integrado em um ambiente de especulação econômica.

O resultado das oficinas está exposto na Bienal de Arquitetura de São Paulo

Já em Curitiba, que tem um planejamento urbano reconhecido em todo o país, o curador Sérgio Póvoa Pires resolveu repensar esse planejamento incluindo novos pontos de vista e perspectivas, que consideram o crescimento externo da cidade. “Queremos fugir da associação de cidades inteligentes com tecnologia, propagada por indústria tecnológica, principalmente no Japão e na Alemanha. Acreditamos que uma cidade inteligente não é administrada por máquinas, mas sim por pessoas”, disse Pires.

Outras perspectivas foram trazidas para o projeto em Salvador pelo curador Ícaro Vilaça. O ativismo foi colocado como uma das soluções para chegar ao “direito à cidade”. Assim, associações de moradores e planejadores locais foram o centro da série de workshops.

Para Cymbalista, o projeto não tinha expectativas de achar soluções ou proposta, mas sim avançar no conhecimento de uma nova sociedade e melhorar as perguntas que estão sendo feitas.

“Nunca haverá uma situação de total estabilidade e ausência de conflitos, isso é uma utopia inalcançável. Cidades são feitas de problemas, disputas e tensões. Abrindo mão dessa ideia de solução universal, acredito que existam saídas, sempre parciais e muitas vezes causando novos problemas, que deverão ser encaminhadas mais adiante”, conclui.

A exposição “No´s Brasil! We Brazil!” faz parte da 10º Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo e está em cartaz no Centro Cultural Sa~o Paulo até 1° de dezembro.

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